sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Olá mamãe

mamãe… 
Olá mamãe, sinto sua falta… Quando virás me ver? 
Estou com muito frio, e medo. Por favor me ajude, mamãe…
 Aqui embaixo é muito escuro, e fedorento. Os ratos já não se contentam com os restos de fezes que eu lhes dou. Ontem mesmo um deles tentou morder meu olho, mas por sorte, não conseguiu. 
 Não aguento mais ter que comer meus dedos, querida mãe. Por favor, me tira daqui! 
Eu sei que não deveria ter matado meus irmãos daquela maneira tão brutal, mas foi preciso. Por favor, entenda que tive que matá-los por fome. 
 A senhora não entenderia o que se passou durante os anos em que esteve ausente. Lembra de como a senhora nos largava por semanas, e depois voltava bêbada e suja, com cheiro de sêmen na roupa? Pois é... Eu lembro muito bem disso.
Ainda escuto os gritos deles, a maneira como arranquei cada membro do pequeno corpo deles. O sangue quente jorrando no meu corpo naquela noite tão fria… Tudo bem, ficar com raiva de mim por causa disso, mas não precisava me trancar aqui junto com as suas, ou melhor, as nossas amantes.
 Eu sei que a senhora trazia suas “amigas” aqui em casa, quando me mandava comprar frutas. 
 Mas eu não entendo o por que de desperdiçar moças tão belas assim matando-as e jogando os restos pros ratos. 
Hoje eu finalmente encontrei uma maneira de sair daqui deste inferno e vou me vingar de ti, maldita malparida! 
Te vejo nos teus pesadelos em breve...


quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Do Outro Lado do Corredor

O filme, uma comédia de segunda categoria com atores de quinta, estava na metade quando Augusto levantou-se do sofá para pegar mais uma cerveja na geladeira. Teve a decência de perguntar a Amaral, o dono da casa, se ele iria querer uma também. Só não fez a mesma pergunta para Peixoto, que cochilava no sofá com os pés sobre a mesinha de centro, repleta de latas de cerveja e refrigerante.

— Pega também uns amendoins no armário.

A cozinha era o local mais organizado da casa. Amaral convidara alguns amigos da faculdade para umas de suas muitas festas de sábado. Em geral envolviam bastante cerveja, conversas idiotas, um jogo de cartas e algumas beldades da faculdade. Infelizmente as meninas bonitas estavam escasseando, provavelmente indo a lugares mais interessantes, e as festas de Amaral começavam a parecer mais com uma combinação entre barbearia e boteco. As poucas meninas que haviam comparecido estavam com seus namorados. Lá pelas 23h, quando a festa deveria estar começando, os convidados começaram a pegar o rumo de suas casas.

Bom, pelo menos ainda havia bastante cerveja na geladeira.


Enquanto procurava o bendito saco de amendoins no armário, ouviu um barulho no corredor do prédio. Uma risadinha de mulher. Como estava perto da porta de serviço, espiou pelo olho mágico. Conseguiu ver as escadas do prédio e a porta do apartamento em frente. Estava parcialmente aberta e lá dentro tudo estava escuro. Ficou olhando por mais alguns segundos, curioso para ver a dona da risada. Teve a impressão de ver algo se mover lá dentro e de ouvir o som de algo sendo arrastado. A porta do vizinho se abriu um pouco e depois se fechou com um baque.


Por um breve momento, teve a impressão de também estar sendo observado.

Pegou as latas que estavam sobre a pia e voltou para a sala.

— Prédio sossegado esse seu — disse entregando a lata para Amaral — Sabe se tem algum apartamento para alugar?

— Acho que uns dois ou três.  O aluguel daqui é meio caro... E ainda tem o condomínio. Se não fosse o Peixoto pra rachar o valor eu ainda estaria na casa dos meus pais... Mas nem é tanto pelo aluguel que eles continuam vazios... Pelo menos eu acho.

O filme estava quase no fim quando terminaram suas cervejas. Amaral arrotou alto o suficiente para perturbar o sono de Peixoto, que resmungou e se mexeu um pouco.

— Não é melhor acordar o coitado e mandá-lo para a cama?

— Eu não sou esposa dele. Ele que durma aí. Contanto que não ronque...

Amaral começou a pular de um canal para o outro. Augusto não estava com a menor vontade de ir para casa. Não tinha cerveja lá. Torceu para que o amigo achasse um filme menos pior que o último.

Dessa vez Amaral foi até a cozinha e voltou com quatro cervejas e um saco de batatas.

— Você falou que não era tanto pelo aluguel... Qual o problema então?

— Uma coisa que o porteiro me contou. Contei a história pro Peixoto... Cara, você precisava ver. Ele ficou uns dois dias dormindo com a luz do quarto dele acesa.

— Sério?

— Acredita nisso? Um futuro matemático...

— E o que foi que ele contou?

Amaral acabou sua cerveja e abriu a outra.

— Uma dona aqui do prédio ficou louca. Matou o marido envenenado. Ela era professora aposentada e o marido era protético... Desses caras que fazem dentaduras. Acharam estranho quando o cara sumiu da firma e ela sempre dava uma desculpa quando procuravam por ele.

Encheu a boca de batatas fritas, ajudando-as a descer com mais um gole de cerveja.

— Os vizinhos achavam que ele estava em casa porque ouviam a tal dona rindo e conversando. Parece que ele nunca foi de falar muito, então ninguém estranhava ouvir só a voz dela. Que combinação... tagarela e assassina...

— ... E maluca.

— Escuta só o final. Começaram a sentir um fedor pelo prédio todo coisa de um mês depois dele sumir. Até que um vizinho do prédio que ficava de frente pra eles chamou a polícia. O cadáver do cara estava na cama deles e o coitado viu o defunto pela janela. Quando a polícia bateu na porta dela, ela tomou o mesmo veneno que tinha dado para o marido.

Augusto assobiou admirado.

— Que coisa bizarra... Mas não parece o suficiente pra tirar o sono de alguém... Não sabia que o Peixoto era tão frouxo assim. Tem muito tempo isso?

— Uns cinco anos. Abafaram muito do caso. Eles eram um casal normal e querido até ela surtar. Mas os moradores dos prédios vizinhos sabem da história toda... E toda vez que alguém vem para ver um apartamento, acabam soltando alguma coisa.

— Bom, se for só por isso... — Augusto tomou um gole da sua cerveja, amassando a lata. Abriu a próxima, mas ficou só segurando a lata, sem beber. Sentira a cabeça girar um pouco. Era melhor evitar exagerar ou corria o risco de errar o caminho para casa. — E em qual apartamento foi isso?

— O daí da frente. Nosso vizinho. Até hoje não conseguiram alugar... O Joel, o porteiro, disse que o cheiro do coroa ficou impregnado lá dentro. E também falou que toda semana alguém reclama de barulhos lá. Coisas raspando no chão, pancadas na parede, coisas sendo arrastadas... Teve uma que interfonou pra portaria no meio da noite reclamando de risadas lá dentro. Claro que ele nem se coçou. Sabe como são as pessoas... Adoram acreditar nas coisas que imaginam. Eu acho que tudo não passa de ratos e pessoas que se impressionam a toa... O lugar está vazio desde antes de nos mudarmos.

Augusto ficou segurando a cerveja e sentindo os dedos adormecidos. Não era pelo frio da lata. Era puro e simples medo.

— Quer mais uma cerveja? — perguntou Amaral.

Augusto queria. Decidiu beber o máximo que pudesse e esperar o dia raiar para voltar para casa. Não queria correr o risco de que a porta abrisse no momento em que ele estivesse esperando o elevador.


Nem queria imaginar o que poderia estar dentro daquele apartamento, logo ali, do outro lado do corredor.


Enviado por: Hedjan C.S. do blog material de pesadelos

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Restos

 Quando andarem nas ruas, vocês irão encontrar os meus restos. Jogado no esgoto estará meu sangue. Minha cabeça talvez no lixo. Mas antes disso, enviarei meus dedos pelo correio. Cada dedo pra uma pessoa que eu amo.
 Se alguém um dia ler isso, peço por favor que alimente o meu gato com meu fígado. Um pedaço pequeno por dia. 
O resto do corpo estará enterrado no quintal da casa. Faça o que quiser com ele. 

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Estrelinha: o demônio lagarto

Já era fim de tarde quando aquelas lavadeiras à beira do rio Carangola paravam com a cantoria, e já se preparavam para retornarem para as suas palhoças. E com suas bacias cheias de roupa, além das próprias roupas que vestiam estarem todas ensopadas, elas se despedem de Galega, a única que prefere ficar por ali, devido ao acúmulo de roupas que a mesma havia juntado. As amigas se espantam e também a advertem que já estava escurecendo, e que não só algum bicho do mato, mas também por ser Quaresma, como a crendice daquele lugarejo acreditava, alguma assombração ou algo parecido, poderia surgir e atacá-la. Mas trabalhadeira e rústica como era, Galega que nem católica mais era, esta debochava da crendice das amigas e demonstrando total desdém, desfaz de sua antiga religião e exalta o pastor de sua igrejinha que em muitas de suas pregações, também condenava os folclores e as crendices populares locais. As amigas vendo a convicção de Galega, não vêem outro jeito a não ser deixá-la ali sozinha com suas roupas à beira daquele rio amarelo que devido a escuridão que já tomava aquela mata, se enegrecia e já se permitia refletir a imensa lua cheia que já despontava naquele céu sertanejo. 'A saia da Carolina tem um 'largato' pintado/ A saia da Carolina tem um 'largato' pintado...sim Carolina ô-i-ô-ai/sim Carolina ô-ai meu bem...Debruçada com suas ancas avantajadas, aquela jovem tabaroa cantava sozinha essa música que lhe fora ensinada por sua avó descendente direta de portugueses. Mas agora ela cantarolava num tom mais baixo e tímido, devido a solidão ou por um certo e ligeiro medo que já começava a lhe tomar. Até que sua cantoria é interrompida por uma moita que começa a se mexer. E assim, Galega logo se espanta, e ao parar de lavar suas roupas, olha ao redor para ver quem ou 'o que' era. Mas para sua surpresa e até graça, ela vê que se tratava de um lagarto que a observava de cima de uma 'laje de pedra' próxima dali. -Ô uai...é só um 'largatinho', sô...vem cá pra eu te levar pra panela, bitelo, vem...ha ha ha! Ela brinca, mais aliviada, e assim torna a lavar suas roupas em seguida. Mas ao fazer isso, ela é surprendida pela mão negra de alguém que tampa a sua boca, a agarra e começa a buliná-la. Galega ainda tenta lutar e se desvencilhar, mas o misterioso indivíduo é mais forte, e após certo tempo se mantendo a cheirar e beijar o cangote daquela galega, ele debruça a mesma, colocando-a de cara contra o banco de areia daquele ribeirão, e em sua loucura arranca-lhe a longa saia de chita com os seus dentes afiados como os de indígenas de determinadas tribos africanas. E ali mesmo sob a luz da lua começa a sodomizar aquela pobre e aflita provinciana. O misterioso homem, se era mesmo 'um homem'...era bem forte, tinha um cheiro estranhíssimo parecido com 'enxofre' ou seja o que for...e para o maior suplício daquela campesina, a criatura era muito bem dotada, o que fazia 'esgaçar' suas brancas e avantajadas ancas jamais 'defloradas' devido ao rigor de sua religião. Ele emitia grunhidos e até uivos enquanto violava Galega que de quatro naquela beira de rio só podia mesmo era segurar bem forte alguns punhados daquela areia como se fosse uma 'fronha'. O pênis do bandido chegava a dobrar e quase 'quebrar' devido ao seu tamanho descomunal. E já numa outra posição, deitada de costas na areia com uma grande e forçada abertura de pernas, ninguém ouvia Galega gritar, e assim aquela violência durou toda noite. No dia seguinte, o marido, a polícia e vários populares estão envolta do corpo ou 'do que sobrou' de Galega. A mulher estirada naquele chão sob as lágrimas do marido e comentários de seus espantados vizinhos, era uma típica vítima de violência sexual fora estranhos detalhes como marcas de presas e até alguns sinais de canibalismo. Ela também fora estrangulada. A violência era absurda e inacreditável para aquela cidadezinha de interior nada acostumada com tal coisa. Nos comentários alguns populares diziam que aquilo era obra de um 'homem lagarto', uma estranha criatura metade homem, metade lagarto que rondava a região estraçalhando as galinhas, atacando o gado, 'vampirizando' o mesmo, roubando as casas e violentando as mulheres. Os policias não deram muita atenção para aquela suposta crendice. E assim o corpo é removido pelo rabecão, mas quando os PMs seguiam para a 'joaninha' ou viatura em forma de fusca da época, um deles se assusta com o que parecia ser a cauda de um imenso lagarto que saía detrás de uma moita. A mesma, logo desaprece, e este policial cismado, coça a cabeça sob sua boina, olha envolta, mas antes de concluir ou considerar qualquer coisa, é chamado e apressado pelo parceiro para entrar no fusca. Alguns dias se passam, mas o terror daquela 'roça' localizada naquela perdida cidadezinha da Zona da Mata mineira. Os bailes de forró e outros festejos populares típicos já deixavam de acontecer. Até mesmo coisas corriqueiras para aqueles sertanejos como catar lenha, pescarias e caçadas já não eram mais realizadas se não fossem em grupos ou até certo horário. O laudo da perícia que diria o que de fato vitimou Galega ainda nem havia saído, mas para aqueles campesinos, o autor daquilo já tinha nome e alcunha: 'Estrelinha, o Homem Lagarto'. A misteriosa criatura assassina que havia roubado o lugar de protagonistas de lendas ou 'causos' de quaresma mais assustadores como o lobisomem, sua irmã mula sem cabeça e outras assombrações. Alguns pescadores ou 'contadores de causos' mais virtuosos e fanfarrões, por aqueles 'botequins' de pau-a-pique já registraram e até 'juraram' ter visto Estrelinha que também tinha fama de zoófilo, a fazer sexo ou 'metendo' loucamente com a própria mula sem cabeça. Outros diziam que Estrelinha era fruto de uma relação ou 'cruzamento' sobrenatural entre um saci e uma freira. O tal saci 'arteiro' teria ejaculado nos fundilhos de uma 'calçola' ou calcinha clássica que a tal 'irmã' havia deixado para secar numa cerca de arame farpado, e quando a mesma vestira a peça, acabara engravidando do ente, e ao ser descoberto isso, o padre a excomungou, o que fez com que ela desse a luz a tal 'fruto maldito' bem no meio do mato onde o mesmo fora abandonado. Essas eram algumas das muitas lendas que cercavam aquele tão temido bandido ou 'ser'. Até que uma nova vítima já era espreitada pelo tal monstro. Ao seguir por um milharal após levar a comida ou o 'comer' de seu marido, uma jovem recém casada mal sabia o que lhe espreitava dentre todas aquelas 'bonecas de milho' a madurar. Ainda na forma humana, o negro Estrelinha com os seus 'olhos amarelos' já como se fossem 'de víbora', já se transformando, ao por sua terrível 'língua partida' de cobra para fora, este parecia lamber os beiços ao ver aquela tão jovem e linda tabaroa inocente. E já quase completando a sua transformação, num quadro ainda 'antropomorfo', ele surpreende a jovem com uma forte chibata com sua cauda que sai de dentro das plantações de milho laçando a mesma pela cintura, e a puxando daquela trilha para dentro do milharal e em plena luz do dia. E horas depois, o cenário é o mesmo do que acontecera com Galega, a lavadeira do ribeirão. O choque e o pavor de todos envolta também não foram diferente. Muitos se apavoravam e alguns até clamavam por justiça e se prontificavam a fazer alguma coisa à respeito. A polícia, descrente, chegava a suspeitar de alguns daqueles caboclos, mas todos insistiam que era obra da tal aberração, e cobravam mais atenção das autoridades ao caso. O laudo da morte de Galega finalmente sai e dentre outros resultados da violência, foi comprovado que a esganadura que a mulher sofrera fora provocada por algo similar a uma corda. E isso mexera ainda mais com a imaginação daquele povoado. A suposta 'corda', na verdade seria a cauda de Estrelinha que numa 'rabada' estrangulou aquela pobre mulher após toda a sodoma que ele lhe praticara. E numa outra noite, mais uma vítima foi feita. A também jovem e linda mulher de 'Craudão'. Este era um lavrador metido a ser o valentão do local, mas ao chegar em sua casa de pau-a-pique e se deparar com aquele negro imenso com aquela cauda de lagarto agitada se balançando enquanto fazia um guloso 'cunilíngua' em sua desesperada mulherzinha, ainda de camisolinha, mantida sentada 'na cacunda'(sobre seus ombros), este só tremia as pernas e implorava para que a criatura não lhe fizesse nada. E esta que não falava, apenas grunhia, ria e uivava, aponta para uma garrafa de cachaça que se encontrava sobre a mesa. Craudão tremendo 'feito vara verde', corre para pegar a bebida e assim que dá a mesma para Estrelinha, este deixa a mulher, gargalha toma um trago e ao cuspir a mesma, ou 'baforar' aos borrifos para o alto, numa explosão similar a de 'pólvora seca', ele completa a sua transformação em lagarto-estrela(Stellagama stellio) e que aos ligeiros rastejos foge dali. Num outro ataque, Estrelinha apavora um casal de namorados que resolvera fazer amor na mata. Neste ataque ao colocar a jovem de quatro sobre a esteira que os dois usavam, para humilhar tanto ela quanto o rapaz, o enlouquecido Estrelinha aplica 'surrinhas' com o seu imenso pênis sobre as ancas da mesma e antes de entochar aquela coisa cheia de veias naquele tão estreito orifício, fitando o também aflito e inerte namorado, o bandido sopra sua língua entre os lábios e reproduz assim uma onomatopeia que simulava um 'peido'. Em sua doentia excitação, ele além de ter devorado a sainha rodadinha e de cor laranja daquela jovem, também fazia 'caras e bocas' e pronunciava estranhos 'balbucios' ou palavras que pareciam ser no 'idioma nagô' ou em alguma outra língua africana perdida. Sua longa cauda de lagarto que já surgia e se mantinha irriquieta, também fora usada para sodomizar ou constranger como fosse aquela cabrocha. Em outros dois ataques Estrelinha desaparecera com a mulher de um fazendeiro e uma 'professorinha leiga' vinda da cidade para lecionar para crianças e adultos de uma escolinha improvisada naquele rincão. Neste dois casos tido como os mais escabrosos e macabros, haviam boatos de que essas duas foram canibalizadas pelo monstro. Mas já numa última aparição, a criatura é apenas avistada por um menino que vai pegar sua bola de meia que caira num bambuzal onde Estrelinha em sua foram humana se masturbava loucamente com uma calcinha enrolada em seu longo pênis ereto. O garoto se espanta e corre para chamar seu pai que ao chegar ali com sua espingarda, vê apenas aquela calcinha rosa-shocking puída e empapada de sêmen e algo que parecia ser um rabo de lagarto a se enfiar pelas moitas de bambu. Ele chega a atirar, mas em vão. Estrelinha na forma de lagarto-estrela já havia sumido. Já estupefatos com os ataques daquela aberração e com o descaso e descrença das autoridades do centro da cidade. Todos aqueles simples homens e mulheres do campo resolvem sair munidos de suas foices, ancinhos e tochas atrás da famigerada criatura. Apesar de muitos acreditarem que o mesmo vivia embaixo da terra, era sabido por alguns daqueles populares que Estrelinha tinha um outro possível esconderijo. Mas tal lugar por ser situado num ponto mais afastado daquele rincão e por ser próximo à uma figueira, também a crendice popular fazia-lhes acreditar que aquele local era amaldiçoado ou assombrado, e logo ninguém se atrevia a se aproximar daquela casa de pau-a-pique. E com isso, Estrelinha viu naquele lugar o local perfeito para seu refúgio, hibernação ou 'troca de pele'. Mas para aquelas pessoas, o momento era crítico, o reinado de terror daquele monstro tinha que parar o quanto antes. Os lagartos comuns que faziam parte do 'cardápio' de iguarias locais, junto com certos tipos de lagartixas, começavam a serem temidos também. E além das vítimas que Estrelinha fazia, outros campônios já deixavam de trabalhar nas lavouras ou mesmo já abandonavam aquela roça de vez com medo desse terrível demônio assassino. E pensando assim, com uma garrucha, zagaias, suas ferramentas de lavradio como armas, água benta e até mesmo um benzedor local, ao cair da noite, aquela população com sede de justiça ou vingança seguiu até a casa da figueira. E ao passarem por aquela torta e apodrecida porteira, a trilha dentre todo aquele alto 'capim-navalha' que dava até o casebre era tão aterradora quanto toda aquela situação. Carcaças de animais massacrados, rastros de sangue, trapos de roupas e calcinhas de possíveis vítimas, travessas de barro e cruzes que evidenciavam algum tipo de ritual macabro feito pelo monstro e até uma 'pele' deixada por ele é encontrada sem querer quando uma das mulheres que acompanhava o grupo, se desespera ao sentir o seu pé se enroscar na mesma. E ao chegarem lá, gritos, xingamentos e orações em voz alta eram proferidos, além de pedras que eram atiradas por eles contra o casebre. E Estrelinha que se encontrava dormindo, logo desperta com a confusão. O mesmo tenta fugir, mas o teto da casa coberto por palha, começa a se incendiar com uma tocha que fora ali arremessada. E não demora aquelas chamas tomavam toda a palhoça, e com isso Estrelinha sai dali com o o corpo todo em chamas correndo em meio a multidão que ainda lhe acerta algumas pauladas que fazem com que ele corra para mais pra dentro daquela mata onde assim desaparece. Seria o fim de seu reinado de terror. E dias depois, é dado um forró no sítio de um agricultor que convida quase todo o povoado para participar. Um leitão é preparado, além de papa de milho e até mesmo fogos em comemoração pela morte da criatura que tanto os apavorava, são soltos. A festança e todo o seu 'rastapé' se dá até a madrugada. E quando finalmente tudo chega ao fim, todos aqueles lavradores e lavadeiras que precisavam acordar bem cedo no dia seguinte, seguem por aquela estrada de chão batido até suas humildes casas. Muitos 'trocavam suas pernas' de tão bêbados, outros se mantinham apenas alegres. Um comentava sobre o festejo, a comida e a dança e já outros falavam e se gabavam sobre como o temível Estrelinha fora morto pela população. As mulheres do grupo, sempre as mais frágeis, e logo, temerosas, pediam para que os homens mudassem de assunto e esquecessem daquele monstro. A noite daquele dia não tinha lua e isso fazia com que aquele caminho iluminado por uma única lanterna que um dos homens portava, ficasse uma verdadeira penumbra ou 'breu'. E é quando aquele falatório e risadas são interrompidos por uma das moitas que circundavam aquele caminho, que começava a se mexer. Todos ficam logo apreensivos, e a lanterna é logo apontada para tal moita que insistia em se mexer. Alguns daqueles homens já tiravam suas faquinhas e canivetes de seus alforjes e coldres e a única espingarda com o grupo já era engatilhada naquela direção. Mas quando menos se espera do lado oposto daquela moita, eis que surge Estrelinha na sua forma mais horripilante, ou seja, metade homem, metade lagarto. E por mais inacreditável que fosse, apesar das graves queimaduras que a criatura sofrera seu corpo parecia intacto. Sua forte pele escamosa de lagarto talvez devesse ser imune a queimaduras. Estrelinha estava novo em folha e parecia ainda mais sedento de sangue. Horas antes durante o forró, algumas crianças chegaram assustadas dizendo para os seus pais que haviam avistado uma grande cauda de lagarto enquanto brincavam próximos a uma moita daquele sítio. Mas julgando o quanto pode ser prodigiosa a mente dos pequeninos, nenhum adulto dera ouvidos aos mesmos. E assim, Estrelinha já corta a jugular do homem que ele surpreende por trás, estrangula com o rabo um outro e quando Estrelinha vai para frente do grupo, o homem com a espingarda desfere vários tiros em sua direção dos quais a incrível criatura consegue desviar com rápidos movimentos parecidos com os de 'capoeira'. E com todo esse drible ele que também mudava a coloração de sua pele ou escamas, consegue tomar a espingarda do homem, quebrá-la e avançar naquela multidão apavorada. Uma das mulheres é pega e arrastada para a atrás de uma daquelas moitas, e as que conseguem fugir, o fazem gritando e berrando enquanto são puxadas pelas mãos por seus também aflitos maridos. O tempo passa, os ataques dão uma certa trégua, mas isso não evita que muitos daqueles campônios abandonem suas casas, independente de terem bons patrões ou serem nascidos e criados ali. O pavor era bem mais forte que tudo isso. E nisso, um PM reformado e cansado das agitações da cidade acaba comprando uma daquelas casas abandonadas. Seu nome era Candinho e no batalhão em que servia, nos tempos de ativa era conhecido por sua bravura. Ele se muda para a antiga casa de um criador de gado que fugiu dali após perder boa parte de sua criação vampirizada por Estrelinha. Na cidade onde Candinho vivia, que não era muito distante dali, ele chegou a ouvir alguns boatos ou comentários sobre o tal 'homem lagarto'. Mas levando tudo na brincadeira enquanto tomava uma 'branquinha' ou cachaça naquele botequinho de pau-a-pique próximo a casa que ele acabara de comprar naquele arraial, ele dizia para aqueles lavradores que 'até mesmo as assombrações tinham medo dele e de seus companheiros de farda quando estes saíam para fazer a ronda na cidade onde ele morava'. E mais outro ataque acontece, e dessa vez numa casa próxima a casa de Candinho. Mas neste ataque, por sorte, Estrelinha em sua forma antropomorfa, não consumou qualquer ato que fosse. Nesta casa onde morava apenas uma mulher com um casal de filhos, o monstro apenas comeu todo o angu que se encontrava numa panela, e em seguida só se aproximou daquela mulher que se mantinha abraçada aos filhos sentada na cama, e numa cena bem parecida com aquela cena clássica do filme 'Alien 3' no qual a criatura também 'flerta' com a Tenente Ripley, se aproximando  bem da face da mesma, Estrelinha reproduz o gesto na mesma forma pondo sua língua de lagarto para fora; mas assim que o galo canta anunciando o nascer do dia, o antropomorfo naquela explosão de 'pólvora seca' se transforma naquele rasteiro lagarto-estrela e foge em disparada dali. E mais tarde, quando Candinho tem conhecimento do fato, e constata que aquilo não se tratava de uma lenda local como sua descrença o fazia acreditar, este logo se prepara para também ficar no encalço da criatura. E assim, sobre seu cavalo, munido de uma lanterna e com o seu inseparável revolver 38, Candinho começa a fazer rondas noturnas. Nas primeiras, ele nada encontra. Era como se o monstro 'o farejasse'. Até que naquela noite de lua cheia ao se aproximar daquela encruzilhada, Candinho finalmente avista a coisa metade homem, metade lagarto a estraçalhar uma galinha viva. Seu cavalo é o primeiro a se assustar emitindo um alto relincho, se empinando e quase derrubando Candinho. E este ainda incrédulo, joga a luz da lanterna na cara de Estrelinha. -Nossa Senhora! É o que ele consegue dizer com o susto que tomara. E Estrelinha que nesta hora, além de mudar a coloração de suas escamas, também 'se inflava', aumentando sua estatura, porém também se espanta, e assim foge como um animal arisco ignorando os chamados de Candinho. E naquela louca perseguição Candinho atirava de seu cavalo enquanto na frente Estrelinha em sua forma antropomorfa seguia correndo ou se arrastando como um lagarto gigante. Até que um dos tiros o acerta. Estrelinha atordoado chega a perder a sua cauda que prontamente é substituída por outra, mas logo para. Candinho em seguida desce de seu cavalo e já próximo de Estrelinha desfere vários tiros à queima roupa, descarrega a munição de seu revolver atingindo dentre a cabeça outras partes vitais do homem lagarto, inclusive seu pênis com o qual ele violou e sodomizou todas aquelas jovens tabaroas antes de matá-las. Mas inacreditavelmente, Estrelinha não morria. E foi quando ainda moribundo enquanto Candinho totalmente pasmado e descrente daquela situação, pegava mais balas de seu alforje, Estrelinha que até então quase nunca falava, apenas ria, grunhia ou uivava em seus ataques, suplica pedindo 'para que este retirasse de seu bolso um livreto que continha uma poderosa reza que o impedia de morrer'. E ao ouvir isso, Candinho pega o tal livreto, e assim ao voltar a sua forma humana, finalmente o terrível homem lagarto assassino morre. Candinho ainda tem a frieza de com sua bota cutucar e virar aquele corpo. E o que ele via com o auxílio de sua lanterna era algo inacreditável. Apesar de estar em sua forma humana, aquele bandido ou criatura ao mesmo tempo em que se parecia com um homem negro, assim como o próprio Candinho, a pele da criatura era grossa e não parecia pele, mas sim escamas que possuíam manchas que lembravam uma 'certa doença de pele', mas na verdade eram manchas próprias da espécie de lagarto na qual aquele homem terrível se transformava. Seus dentes como já relatado, eram afiados, e suas orelhas eram mutiladas, talvez por ele próprio e como parte de mais um de seus rituais macabros. E com isso, a paz voltava a reinar naquele rincão do qual Candinho se tornara o herói. O caso é levado às autoridades que além do corpo de Estrelinha também recolhem o tal misterioso livreto. Das poucas páginas daquele livro que Candinho rapidamente folheou, ele também se assustou com a quantidade de imagens e ilustrações das mais profanas, macabras e até pornográficas nas quais se incluíam imagens absurdas e assombrosas de relações entre pavorosos 'gárgulas' e mulheres humanas, além de algumas 'rezas', conjurações e evocações malígnas e arrepiantes. O tal livreto na mão de alguns policiais acaba se tornando motivo de galhofa. E um deles, um jovem policial bem descrente, resolve até mesmo brincar lendo ou recitando algumas daquelas 'conjurações bizarras'. Seus colegas riem e outros até se mantem receosos o advertindo para que o mesmo não brincasse com tal coisa. Mas ele não dá ouvidos e faz a sua gracinha do mesmo jeito. Mas dias depois, este mesmo policialzinho começa a agir de forma estranha. Sua esposa estranhou o seu estranho e novo cacoete de ficar botando a língua a todo o momento para fora, além da vontade do mesmo de querer comer carne crua. E ele também se torna bastante violento inclusive na hora que os dois fazem amor. Além de violento, também experimenta formas de sexo que a mulher se desagrada, e quando a mesma o repele, ele acaba a estrangulando. E fazendo isso ele esconde o corpo dela e vai para a delegacia onde ao tirar serviço numa diligência também estrangula o parceiro sem qualquer explicação. Os outros tentam separá-lo, mas a sua força era algo descomunal e foi preciso simplesmente 'fuzilá-lo' para que ele soltasse o colega quase à morte. O que se concluiu fora que o jovem policial estava passando por stress de trabalho, mas por outro lado, muitos sabem e viram ele brincar com aquele tal livreto que se encontrava no almoxarifado da guarnição. Candinho que muitos diziam possuir o couro de Estrelinha pendurado na parede de sua sala, e que apenas visualizou rapidamente algumas páginas e figuras daquele livro, também começara a agir de forma estranha. O mesmo começou a se manter calado, solitário e a ter hábitos estranhos e inexplicáveis. Até que veio a notícia de que estranhamente, ele apontara o seu 38 contra a própria cabeça e se matara sem nenhuma explicação plausível para tal ato. Anos depois aquela delegacia acabou sendo desativada, e com isso as coisas que ali ficava retidas, também tiveram fim ignorado, inclusive o tal 'livreto do mal'. Também nunca se soube onde fora enterrado ou 'desovado' o corpo de Estrelinha. A população sabe de seu fim, mas nunca viu o seu corpo e só ficaram mesmo fora com as histórias de Candinho que por ser ex-policial lhes inspirava muita confiança e segurança. Em cidadezinhas vizinhas já começavam a surgir boatos de supostas novas aparições da criatura, e também se dizia que muitas daquelas mulheres que sobreviveram ao seu ataque, ficaram grávidas e que ao fugirem daquele lugarejo se espalharam por várias capitais, onde com o passar do tempo o aumento do índice de crimes brutais e inexplicáveis coincidiu com o tempo em que essas crianças atingiram certa idade. Tudo isso com exceção de alguns acontecimentos e alterações de alguns locais e nomes de personagens, de fato aconteceu há cerca de trinta anos atrás numa pequena cidade do interior do estado do Rio de Janeiro. Pouco se sabe sobre o que é lenda ou o que é real, mas...e o tal livreto? Este que dentre outras coisas bizarras também ensinava encantamentos para transformar um ser humano, além de lagarto, em lagartixa, ratos e até num mosquito...?! Ninguém sabe o seu real paradeiro. E pode está por aí nas mãos de algum assassino em potencial ou alguém que passe a ser um após folhear aquelas páginas macabras e se tornar autor da mais hedionda e infame atrocidade que se possa imaginar, mas nunca explicar.

Enviado por: Dr. Honoris causa

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Caso Muriel Santos

 Durante alguns meses, eu trabalhei num hotel perto de casa. Nessa época, era a minha única opção. Se eu pudesse voltar no tempo, eu procuraria outro emprego. Aquela foi a pior escolha da minha vida.
 Tudo começou no primeiro dia de trabalho naquele lugar horrível, quando eu estava limpando o balcão e um hóspede chega. Era uma mulher linda, simpática e perfumada. Ela alugou um quarto no último andar do hotel.
 Alguns minutos depois, chega um homem estranho com um olhar meio desconfiado, como se estivesse fugindo de alguma coisa. Ele ficou sentado no saguão por quase uma hora, e depois subiu as escadas pro segundo andar. Eu tentei seguir ele, mas fui chamado na recepção.
Eram 2:00 da manhã quando meu turno acabou. Peguei meu carro e fui pra casa. Chegando lá, liguei a tv e fui lanchar.
A única coisa que dava pra assistir era um canal de notícias falando sobre uma tal de Muriel Santos que tinha sido encontrada morta no hotel que eu trabalhava. Nesse momento o meu sangue gelou e eu quase desmaiei ao ver que era a mesma mulher que eu tinha deixado no freezer do hotel. Mas eu lembro de ter cortado muito bem o corpo dela em pedaços. Ninguém usa aquele freezer desde que eu trabalho naquela merda. Como descobriram aquele corpo lá? Será que viram também os corpos que estavam na caixa d'água?

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Isso é tudo o que eu mais preciso


Isso era pra ser apenas uma brincadeira, mas foi longe demais. Não devia ter entrado naquele maldito lugar.
Meus pais bem que avisavam pra não brincar com os mortos, mas eu queria apenas me divertir um pouco.
Por alguns minutos eu achei que era apenas diversão, mas depois me arrependi de ter feito isso.
O começo não foi tão ruim. Entrar naquele lugar foi fácil. O portão estava tão enferrujado, que nem precisou quebrá-lo pra entrar.
Sons estranhos eram a única coisa que habitavam aquele lugar sombrio e assustador.
Tudo alí estava cheio de mofo e poeira. O cheiro quase não me deixava respirar.  
O lugar sempre teve um clima pesado. Ainda mais depois do que rolou alí.
É muito estranho entrar num lugar onde já aconteceu várias tragédias. Essa biblioteca é um desses lugares.
Relembrar o passado pode ser traumático pra algumas pessoas. Até mesmo pra quem causou isso tudo.
Os fantasmas daquelas crianças que foram mortas dentro dessa biblioteca, ainda vivem nela. Entrar aqui me faz lembrar dos gritos de dor e agonia daquelas pobres crianças que eu ajudei a torturar e desmembrar.
Uma das sensações mais estranhas que eu senti em toda minha vida. Era um misto de raiva e tristeza.
Beber o sangue delas me ajudou a aliviar esse sentimento.
Ouvir os sussurros desses fantasmas me acalmam agora. Isso é tudo o que eu mais preciso.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Cabeça de gato

Marcos Ferreira Santos, conhecido como "Cabeça de gato", um dono de um circo dos horrores chega à cidade,  anunciando o circo dele.
Quando chega a noite, na praça da cidade começa a tocar uma música bizarra e distorcida e Marcos aparece chamando o povo pra assistir.
Durante uma semana, cabeça de gato conseguiu fazer seu show. Até que a polícia recebe uma denúncia de um dos funcionários dele. A filha mais velha disse que ele estuprava todos os dias todas as funcionárias do circo e forçava elas a terem o filho pra depois fazer experiências com os bebês, que seriam costurados nas costas uns dos outros e serem expostos no show de horrores dele.

A polícia ainda não localizou o suspeito.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

A morte atrás da porta


              Júlia acordou sobressaltada. Julgou ter ouvido a porta da sala bater, mas isso não era possível. Estava completamente sozinha naquela casa. Com certeza tinha sido um sonho, ou então era o efeito da heroína causando-lhe delírios auditivos. Sentou-se na cama. A quanto tempo estava confinada naquele quarto? Dias? Meses? Não sabia ao certo. Mas também isso não tinha a menor importância. Na verdade nada mais tinha.  .
                  Sobre o criado-mudo estavam a seringa, a borracha e um frasco vazio de heroína. Eram os três amigos que lhe faziam companhia em seu confinamento auto imposto. O blackout na frente da janela impedia a penetração de qualquer luz externa, mantendo o quarto na penumbra durante o dia e mergulhado numa quase total escuridão  à noite. Esse revezamento entre a pouca e a quase nenhuma iluminação é que fazia com que Júlia distinguisse o período diurno do noturno, mas a verdade é que para ela não fazia a mínima diferença. Ali, entre aquelas quatro paredes, o tempo era algo tão inútil e sem sentido quanto um relógio sem os ponteiros. Levantou-se e acendeu a luz. Abriu o guarda-roupa e contemplou-se no espelho afixado na parte interna da porta. Sua aparência estava horrível. A imagem à sua frente era de uma jovem envelhecida, com manchas escuras embaixo dos olhos e um aspecto cadavérico devido à palidez e magreza extremas. Já havia muitos dias que não colocava nada no estômago. A heroina era o seu único alimento, um alimento que estava destruindo o seu corpo, mas que afrouxava as amarras que prendiam a sua alma. Logo essas amarras iriam partir-se, e então sua alma se libertaria para sempre, assim como aconteceu com seu namorado. A alma dele foi liberta pela heroína e, agora, estava flutuando em outro plano, salva de todo peso e opressão que a vida lhe infligira. Júlia sabia que faltava muito pouco para reencontrar seu namorado. Talvez a próxima injeção na veia fosse a última. Abriu uma das gavetas do guarda-roupa. Em seu interior haviam mais de duas centenas de frascos contendo heroína. Os vazios, espalhados pelo chão do quarto, formavam também uma grande quantidade. Aquele numeroso estoque tinha lhe custado todas as suas economias e alguns itens domésticos. Surpreendeu-se de ainda estar viva depois de ter consumido tanta droga. Era de admirar como seu corpo tinha resistido a tamanha carga, muito embora ele estivesse visivelmente deteriorado.
              Meteu a mão na gaveta e retirou um dos frascos. Foi sentar-se novamente na cama. Enfiou a seringa no recipiente, puxando, com o êmbolo, o líquido amarelado para dentro do tubo graduado. Amarrou bem apertada a borracha em volta de seu bíceps esquerdo. Esse ritual, inúmeras vezes repetido, já lhe era tão automático quanto o ato de respirar. Localizou uma veia em meio aos vários furos existentes em seu braço. Iria mais uma vez entorpercer-se, mergulhar fundo no vazio aquecido e confortável que só a heroína poderia proporcionar. Sentia que aquela seria a última dose, a derradeira viagem. Sua alma, finalmente, iria soltar-se das amarras que a aprisionavam. Seu namorado estava esperando sua chegada. Voltariam a ficar juntos, dessa vez para sempre. Era justo que a morte reunisse o que ela mesma havia separado. Aproximou a agulha do braço. Algo, porém, a deteve. O som de risos, vindo da parte inferior da casa, chegou aos seus ouvidos. Júlia desprendeu a borracha do bíceps e colocou-a, juntamente com a seringa, sobre o criado-mudo. Levantou-se e colou o ouvido na porta. Captou alguma coisa parecida com pessoas conversando. Seria alucinação causada pela droga? Girou a maçaneta e saiu para o corredor escuro em cujo final estava a escada que conduzia à sala de estar. À medida em que se aproximava, os risos e diálogos iam se tornando mais altos. Sentou-se nos primeiros degraus de modo a ficar oculta e poder ver a sala. Não foi sem espanto que percebeu um casal nu, deitado no sofá. A mulher estava de bruços e o homem, sobre ela, penetrava-a por trás. Agora não eram mais risos e diálogos, e sim gemidos. No som gutural emitido pela mulher havia algo de prazer e de dor ao mesmo tempo. Isso, associado com a posição em que se encontravam, deixava evidente que aquele indivíduo estava sodomizando sua parceira. Júlia esforçava-se para entender o porquê daquelas pessoas terem invadido sua casa. Pelo aspecto pareciam moradores de rua. Provavelmente pensaram que se tratava de uma residência abandonada. De fato o lugar parecia mesmo estar abandonado. Era uma construção envelhecida precocemente, assim como sua proprietária. A falta de zelo mais que a ação do tempo tinha contribuido para isso. O mato alto na área da frente, as paredes sujas e descascadas, as janelas e a porta desgastadas e enegrecidas davam uma falsa idéia de que não havia ninguém morando alí.
              Júlia teve o impulso de descer e expulsá-los, porém seu corpo estava debilitado demais para responder a esse comando. Na verdade não era só a falta de força física, mas também a falta de vontade. Por que deveria tomar uma atitude se nada mais fazia sentido? Por que se importar com o fato de terem invadido sua casa se logo estaría morta? Que aquele casal fizesse bom proveito da estadia. Já ía se erguendo para voltar para o quarto quando algo terrível a deteve onde estava. O homem começou a esmurrar sua parceira na cabeça até deixá-la desacordada. Em seguida virou-a, colocando-a deitada de costas. Ele penetrou-a na vagina ao mesmo tempo em que a sufocava com as duas mãos fechadas sobre sua garganta que só parou de apertar depois que atingiu o orgasmo. Júlia sentia-se confusa. Não tinha mais certeza se o que estava presenciando era real ou apenas criação de sua mente alterada pela heroína. Estava mais inclinada para a segunda hipótese, já que tudo aquilo lhe parecia tão distante e surreal como só um delírio podia ser.
               Mas, se aquele casal na sua sala era uma alucinação, então ele ía desaparecer a qualquer momento. Júlia fechou os olhos, acreditando que quando voltasse a abri-los não iría haver mais nada além de um cômodo silencioso com um sofá velho e empoeirado. No entanto, ao levantar as pálpebras, percebeu com um certo desespero que os dois invasores continuavam lá, a mulher prostrada no sofá e o seu conpanheiro por cima dela, estrangulando-a. Ele, logo depois de atingir o clímax, retirou as mãos da garganta de sua parceira cuja laringe encontrava-se, agora, esmagada. Levantou-se e ficou contemplando o corpo sem vida de sua vítima. Sentou-se na beirada do sofá, cabisbaixo. Outra vez o maldito sentimento de culpa a incomodar-lhe como um espinho cravado na carne. Não queria tê-la matado, mas não conseguia evitar. Era mais forte que ele. A sensação que experimentava era magnífica, o prazer percorrendo suas entranhas como uma descarga elétrica e fazendo o seu corpo vibrar. Estava viciado nisso e para satisfazer o seu vício tinha que matar, matar com frequência. O problema era aquele mal estar que vinha depois, aquela culpa que só podia originar-se de algum resto de humanidade que ainda possuía. A pergunta que júlia se fazia, naquele momento, era se devia ou não acreditar no que seus olhos estavam vendo. Fosse como fosse decidiu que já tinha visto o suficiente. Subiu os degraus e voltou para o seu quarto. Ao adentrá-lo apagou a luz, fechando a porta atrás de si com um leve ruído produzido pela lingueta da fechadura, ruído esse que não passou despercebido para o assassino que estava na parte inferior da casa. Ele levantou a cabeça, apurando a audição. Tinha escutado um som parecido com o de uma porta batendo. Parecia ter vindo de cima, mas não tinha certeza. O pensamento de que talvez houvesse mais alguém ali surgiu em sua mente. Olhou para a mulher morta no sofá. Ela havia garantido que aquela casa estava abandonada. Durante alguns segundos manteve os ouvidos atentos, na expectativa de captar mais alguma coisa, porém o silêncio continuou, ininterrupto. Vestiu a calça  e subiu os degraus que conduziam ao primeiro andar. Precisava ter certeza se havia ou não mais alguém naquela casa. Penetrou num pequeno corredor, iluminado fracamente pela luz vacilante de uma lâmpada. Aproximou-se da única porta que havia ali. Com certeza tinha sido ela que ouvira bater minutos antes.
              No quarto, Júlia estava outra vez preparada para se aplicar a última dose de heroína, a que ía fazer o seu, já frágil, coração parar. Estava prestes a injetar a droga quando percebeu alguém aproximando-se pelo corredor. Viu, por baixo da porta, uma sombra parar na entrada do quarto. Era o estrangulador. Real ou não ele tinha vindo atrás dela. Não perdeu mais tempo. Enterrou a seringa no braço, empurrando o líquido para dentro de seu corpo. O homem girou a maçaneta e empurrou a porta. Avistou, de imediato, envolvida pela penumbra, uma silhueta feminina sentada numa cama. Quando pressionou o interruptor que achou na parede, a luz pareceu irromper dolorosamente como se fosse uma aberração naquele cômodo. Uma figura pálida, esquelética e segurando uma seringa vazia tornou-se nítida sob a iluminação do quarto. Com a visão meio ofuscada pela claridade Júlia observou o indivíduo aproximar-se dela. A droga estava começando a fazer efeito. Seu coração acelerou a ponto de parecer que ía explodir. Estava prestes a ter uma parada cardíaca. O assassino caminhou, pisando nos frascos vazios espalhados pelo assoalho, até estacar diante daquele farrapo humano. Júlia levantou o rosto para encarar o homem.
              ___ Você é real ou uma alucinação?___ Perguntou ela, expulsando a voz da garganta.
              ___ O que você acha?___ Replicou o homem. Ele correu os olhos pelo quarto. Julgava que era um quarto porque os móveis ali existentes, embora caindo aos pedaços, sugeriam isso. Mas, na verdade, não passava de um buraco sujo e fétido.
              ___ Se você é real___ disse Júlia.___ então o cadáver que você deixou lá na sala também é.
              O assassino encarou-a como a uma barata que ele estivesse prestes a esmagar.
               ___ Quer que eu te diga uma coisa?___ Disse.___ Hoje não é seu dia de sorte. Você não era pra estar aqui, mas deu o azar de estar.
               ___ Não me diga.___ rebateu Júlia, emitindo um riso logo sufocado por uma contorção facial devido a uma dor que ela não tinha certeza se partia do peito ou do estômago.___ Diga alguma coisa que eu não saiba.
               ___ Não se preocupe, eu posso dar um jeito nisso bem rápido.
              O homem deu um passo à frente e colocou as mãos em volta do pescoço de Júlia. Ela não esboçou nenhuma reação. Apenas fechou os olhos enquanto sentia a pressão esmagando sua laringe. Estava pronta para deixar aquela existência miserável. Finalmente iría reencontrar o seu namorado. O assassino, pelo menos dessa vez, não estava matando por prazer. O seu ato homicida não estava sendo movido por impulsos sádicos, mas pelo instinto de auto preservação. Ela era uma testemunha e tinha visto o seu rosto, por tanto não podia deixa-la viver. Depois de dar cabo dela iria enterrá-la, com a outra, no quintal da casa. O tempo se encarregaria do resto. Aquela, ao contrário das suas outras vítimas que lutaram muito, antes de morrerem, não apresentou nenhum tipo de reação. Parecia, até mesmo, que estava disposta a ser assassinada. Júlia foi compelida a deitar de costas sobre a cama. As duas mãos poderosas, do estrangulador, comprimiam seu pescoço frágil e fino, destruindo a estrutura interna de sua garganta tão facilmente como se fosse um graveto. Ele pôde sentir a vida esvaindo-se do corpo dela como água descendo pelo ralo. Mas, subitamente soltou-a e deu um pulo para trás com uma expressão de pavor. Tinha alguma coisa muito errada. Era algo insano. Tão insano que sua mente não podia compreender. Saiu em disparada pelo corredor. Uma força sinistra tentou puxa-lo de volta para o quarto. Sentiu, de repente, que o seu contato com a realidade estava se desintegrando. Era como se estivesse num terrível pesadelo. Percebeu, com horror, que as paredes começavam a fechar-se sobre ele, o corredor tornou-se mais longo do que realmente era. Correu o mais que pôde, porém alguma coisa o forçava para trás. Era aquela casa. ela estava viva e queria puni-lo por todos os seus crimes, por todas as suas vítimas. Ela queria arrastá-lo para o inferno. Um grito medonho escapou de sua garganta. Com uma força sobre humana conseguiu chegar à escada. Ao descê-la, entretanto, tropeçou e rolou pelos degraus, quebrando o pescoço. Numa fração de segundos antes de morrer, ainda teve tempo de ver a morta levantando-se do sofá.
                                         **************     
              O policial agachou-se e observou o cadáver, depois olhou para o alto da escada. Voltou os olhos, outra vez, para o cadáver. Procurou por algum ferimento profundo, mas não encontrou nenhum. Só conseguiu visualizar escoriações. O defunto estava com as duas pernas sobre o último degrau e o resto do corpo no chão. A posição inclinada da cabeça era um indício de que o pescoço podia estar quebrado. O que perturbava era o seu rosto. Os olhos arregalados, os músculos faciais contraídos e a boca aberta, num grito mudo, uniam-se para compor uma expressão de extremo pavor. Parecia que ele tinha visto ou vivido algo muito aterrorizante. O policial virou-se e olhou, por cima dos ombros, para o seu parceiro que observava a mulher morta no sofá. Consultou o relógio de pulso. 6:30h da manhã. Definitivamente era um péssimo jeito de começar o dia. Ergueu-se e caminhou até seu parceiro.
              ___ E então? Mais alguma coisa?___ perguntou.
              ___ Não. É aquilo mesmo.___ Respondeu o outro. Sua cabeça estava infestada de cabelos brancos, não obstante aparentava ser bem mais jovem que seu companheiro. ___ Ela morreu por estrangulamento. A mancha escura no pescoço deixa claro isso.
               ___ Com certeza houve contato sexual.
               ___ Com o cara lá? ___ indagou o homem de cabelos brancos, indicando com um gesto de cabeça o cadáver no sopé da escada.
                ___ Talvez. Ele deve ter quebrado o pescoço quando caiu na escada. Talvez alguém o tenha empurrado.
                 ___ É, e esse alguém pode ter, também, estrangulado ela. Vamos ver se a perícia vai achar alguma coisa que confirme nossas teorias. Achou alguma coisa lá em cima?
                 ___ Não há nada lá em cima. Só um quarto vazio.
                 Um homem baixinho e rechonchudo invadiu o recinto. Ao avistar os cadáveres, fechou os olhos com uma expressão de repulsa. Os policiais identificaram-se e depois o conduziram para a área da varanda.
                  ___ O senhor é proprietário do imóvel? ___ Perguntou o tira que aparentava ser mais velho.
                   ___ Sou. ___ Disse o homem, balançando levemente a cabeça cujo tamanho parecia ser desproporcionalmente grande em relação ao corpo. ___ Como pode ter acontecido uma coisa dessas?
              ___ Os vizinhos ouviram gritos na casa e então resolveram ligar pra polícia. Quando chegamos aqui encontramos dois corpos. Não achamos nenhum entorpecente, então é provável que eles invadiram seu imóvel apenas pra fazer sexo. O que aconteceu depois é o que queremos descobrir. Estamos aguardando a chegada da perícia pra fazer um exame mais minucioso.
              O proprietário deu um suspiro profundo, depois falou com um ar enigmático:
               ___ Acreditem, vocês nunca vão entender o que aconteceu aí. O que matou          essas duas pessoas não pertence ao nosso mundo.
               Os dois policiais entreolharam-se.
                ___ Como assim "não pertence ao nosso mundo"?___  Indagou o mais velho.
                ___ Há uns 40 anos atrás ___ Disse o proprietário. ___ Uma jovem chamada Júlia morreu de overdose, por heroína, no quarto do andar superior da casa. Desde então a casa passou a ser mal-assombrada. Eu comprei ela há dez anos, sem saber dessa história, na mão de um funcionário público aposentado. Eu aluguei-a várias vezes, mas nenhum dos inquilinos morou nela por muito tempo. Teve uma família, mesmo, que só morou um dia. Todos alegaram a mesmas coisas: visão de vultos, portas fechando e abrindo sozinhas; utensílios domésticos caindo sem causa aparente; móveis arrastados por mãos invisíveis e por aí vai. A maioria disse ter visto a alma da tal Júlia perambulando pelos cômodos da casa. Pessoas entendidas no assunto me disseram que ela não sabe que está morta. Ou, então, que sabe, mas não aceita. Eu, particularmente, nunca vi nada, mas, ainda sim, acredito que haja alguma força sobrenatural habitando aqui.  O fato é que não consegui mais alugar essa casa pra ninguém, nem tampouco vender. Não tive outra escolha senão largar de mão. Agora ela tá aí, entregue ao tempo. E o pior que meu dinheiro também.
              ___ Nós respeitamos seu posicionamento, ___ disse o policial de cabelos         brancos. ___ mas uma coisa eu posso lhe garantir: Essas duas pessoas não foram mortas por nenhuma alma de outro mundo, mas por alguém de carne e osso que vai responder pelo que fez.
            O homem rechonchudo deu de ombros.
               ___ Se você diz...!
            Dois veículos estacionaram em frente à casa. Um tranportava o pessoal da perícia,o outro era o rabecão, para o recolhimento dos cadáveres.
              ___ Finalmente chegaram. ___ Disse o policial mais velho.
              ___ Fiquem à vontade policiais. Se precisarem de mim pra alguma coisa, estarei às ordens.
              O homem percorreu a pequena trilha, ladeada por uma vegetação alta que proliferava ao redor da casa. Os peritos passaram apressadamente por ele em sentido contrário. Cruzou o portão e estacou na calçada, observando a pequena aglomeração de curiosos em frente à sua propriedade. Girou nos calcanhares. Contemplou o imóvel que adquirira Há uma década atrás. De repente um calafrio fez arrepiar todos os pelos de seu corpo. Através da vidraça de uma das janelas enxergou o vulto de uma mulher. Soube imediatamente que se tratava de Júlia, a toxicômana morta há 40 anos.
                ___ Você nunca vai deixar essa casa, não é Júlia? ___ Falou, quase num sussurro e com um meneio de cabeça.
Enviado por: Caio Graco

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Seremos felizes até o fim

Eu ainda me lembro de como nos conhecemos. Consigo lembrar de cada detalhe seu. Os cabelos negros, longos e macios balançando e refletindo lindamente a luz do sol. Você me olhando, um pouco tímida mas feliz.
Até que um dia infelizmente você morreu. Chorei por dias, até que tive a ideia de te desenterrar. E agora viveremos pra sempre juntos depois que eu costurar nossos corpos. Seremos felizes até o fim.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

ZK-5F: A infecção parte 3 (C1P3)

Leia a parte 1 e 2, antes de ler essa parte.
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Capítulo 1, parte 3: A fuga

Eu nunca vou me esquecer do dia em que tudo isso começou. Eu olhava pela janela da sala, todo mundo tentando desesperadamente se matar. O cheiro de carne podre era insuportável. Andando pelas ruas, eu via pessoas rasgando a própria barriga pra se livrar da fome, outros arrastando os intestinos no chão e tentando comer sua própria carne.
Aquilo foi horrível. Não consegui dormir por dias. Aproveitando isso, peguei o meu carro e fui viajar pra talvez encontrar um lugar seguro.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

ZK-5F: A infecção parte 2 (C1P2)


Leia a parte 1 antes de ler essa parte.
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Capítulo 1, parte 2: O acampamento
Eu acordei num acampamento com mais 3 pessoas na minha barraca. Fui o segundo a levantar, e vi que do meu lado tinha uma carta que dizia o seguinte:
-"Eu não queria ter feito isso, mas tive que fazer.
Por favor filho, me perdoe por ter te abandonado com essa escória de cientistas que não merecem ser chamados de humanos. Eu precisava muito de dinheiro. Estou muito arrependido por acreditar nesses vermes. Eu farei de tudo pra conseguir tirar você desse lugar. 
O apocalipse começou. Os mortos se levantaram e estão voltando pros seus lares. Essa é a primeira etapa do projeto ZK-5F, a infecção pelos monstros que eles criaram pra depois destruírem e virarem heróis. Saiba que onde você está é mais seguro que o lado de fora, mas tenha cuidado, eles podem te expulsar se você não obedecer as ordens deles.
Guarde isso com muito carinho, pois nessa carta existe um código que só você pode decifrar, e assim sair desse inferno.
 Eu estarei sempre ao seu lado filho, nunca se esqueça disso."-

Não acredito que meu pai fez isso comigo. Me jogou nesse inferno dizendo que estava era pra me proteger.
Até agora não encontrei nenhum zumbi. Espero que continue assim até conseguir sair.
Assim que eu saí da barraca, veio uma cientista que me deu um cartão e disse: "Olá senhor, bem-vindo ao acampamento ZK-5F. Aqui está o seu cartão de residente. Ele serve pra tudo que você for fazer dentro do acampamento como comprar alimentos, armas, munições e usar o banheiro.
O seu cadastro já foi feito pelo seu pai quando ele te trouxe."
No fim do dia eu fiz amizade com os outros moradores do acampamento e fizemos um plano pra tentar fugir desse inferno.  Espero que dê certo.

continua...

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

ZK-5F: A infecção (C1P1)

Leia o projeto ZK-5F, pra entender melhor a história.

Esta é a história do projeto ZK-5F. Uma arma biológica que transforma pessoas em "zumbis", por causar necrose em 90% do corpo, e pode também causar alucinações fazendo a pessoa agir como animal, se misturado com álcool. A nova droga será vendida como a cura pro câncer ou aids, dependendo da região.
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Capítulo 1, parte 1: A infecção
Bem-vindo ao projeto ZK-5F, ele está pronto pra ser lançado. Serão dois longos anos pra espalhar o vírus pelo mundo inteiro.
A sua missão é conseguir sobreviver pelo menos até o final da primeira fase do projeto.
Se conseguir poderá ter imunidade contra essa pandemia.
Que a infecção comece.

continua...

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Käsja parte 3

Leia a parte 1 e 2, antes de ler essa parte.
Tive certeza que aquilo não era humano quando ele começou a se contorcer e fazer barulhos bizarros com as 5 bocas espalhadas pelo corpo. Ele levantou da cama, e começou a vomitar alguma coisa parecida com cabeças humanas chorando sangue podre. O cheiro era horrível.
Quando eu ia sair do quarto, as paredes desapareceram dando lugar a um labirinto cheio de túneis escuros e úmidos. Aquilo foi horrível.
A criatura começou a me seguir. Não importava por onde eu andasse, ele sempre estava atrás de mim.
Até que eu entrei numa sala onde eu encontrei Käsja, que me disse: "ele nos encontrou. Temos que ficar juntas o tempo todo. A saída fica depois de mais alguns metros.
Saímos de lá, mas o monstro também conseguiu, e matou Käsja. Tentei fugir mas ele acabou arrancando minhas pernas.  
Se alguém encontrar esse diário, significa que eu já morri.
A última coisa que eu queria dizer: Käsja, eu te amo.
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O corpo de Larissa foi encontrado de madrugada por um morador de rua, perto de um prédio abandonado. Abraçada no corpo de Käsja, as duas estavam penduradas numa árvore.

Käsja parte 2

Leia a parte 1, antes de ler essa parte.

21fev2013
Era a minha mãe no telefone. Gritando, como sempre fazia quando estava bêbada. Depois de alguns segundos eu escuto um choro vindo da rua. Talvez uma criança perdida procurando os pais.

22fev2013
Na faculdade, Käsja estava um pouco mais triste do que antes. Mais uma vez saímos depois da aula. Fomos num bar. Passamos a noite quase toda lá, e depois fomos andar pela cidade.
Käsja me contou quase chorando, que perdeu quase toda a família num incêndio. E veio pro Brasil pra esquecer aquilo tudo.
Nos abraçamos, e ela começou a alisar o meu cabelo e me beijou dizendo que eu era a garota mais bonita que ela tinha conhecido.

23fev2013
Hoje eu comecei a ter pesadelos lúcidos com momentos da minha vida, nos quais eu não me lembro mais.
Minha mãe veio me visitar. Bêbada como sempre. Eu dei banho nela e reparei alguns cortes profundos na pele dela, levei ela pro hospital logo em seguida.

24fev2013
"mortos não caminham em árvores." Minha mãe repetia isso várias vezes, e sempre quando eu perguntava o que era isso, ela olhava pro chão e saia gritando logo em seguida. Finalmente ela disse o significado disso. Ela contou que quando era criança, gostava de subir em árvores, e numa dessas vezes, ela encontrou um corpo pendurado em um galho, e quando foi descer, o braço do morto agarrou a perna dela, derrubando minha mãe, que bateu a cabeça no chão com muita força, e quase morreu. Quando ela acordou, o cadáver estava em cima dela. Depois disso, nunca mais ela subiu em árvores.

25fev2013
Hoje eu acordei sangrando muito. Meus olhos estavam cobertos de sangue. Aquilo foi horrível.
Tentei andar pela casa, mas a minha visão estava péssima. Estava com uma puta dor de cabeça, então fui pro hospital.
No caminho, tive que parar o carro. A dor estava mais forte do que antes.
Desci do carro, e quando acordei estava na casa da Käsja.
Conversamos por algumas horas, e depois ela me levou pra casa. No caminho fomos conversando sobre o que aconteceu naquela manhã.

26fev2013
Alguém estava na minha cama quando fui dormir. Não dava pra ver quem era, só sei que não era humano. O teto e as paredes estavam pingando sangue. Aquilo foi a pior coisa que eu vi.

Continua...