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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Amigo do tabuleiro


Sabrina descobriu o jogo do copo há pouco tempo. Achou fantástica a sensação de poder conversar com alguém que já morreu ou simplesmente receber sinais de entidades desconhecidas. Na verdade, ela não acreditava que as entidades pudessem fazer algum mal a ela, afinal, quem já morreu não pode ultrapassar a barreira do real. Ela comprou o tabuleiro em uma pequena loja de artesanato. Pediu para que um velho artesão a produzisse com madeira fina e envernizada. Seu orgulho era perceber o copo leve de cristal deslizando pela mesa ao fazer suas perguntas.
Sozinha em casa, ela tinha a certeza de que o movimento do copo não seria falso. Como no filme “O Exorcista”, Sabrina tinha um amigo invisível, era João, um adolescente que foi assassinado por seus pais quando esses voltavam de uma festa, bêbados e o confundiram com um bandido.
Toda noite, Sabrina conversava com João:
- Você não se sente sozinho por ai? O que fica fazendo até eu te chamar?
João respondeu:
- Fico pensando em você.
- Mas eu sempre venho conversar com você!
- Tenho medo que um dia você não venha…
- Sempre estarei aqui. Todos os dias!
- Fico feliz em saber…
Sabrina foi dormir. Dormiu, como uma criança. A conversa com João era como histórias para fazê-la dormir.
No dia seguinte, Sabrina acordou cedo e foi para a aula. Passou seis horas no colégio, como de costume. Mas sentia que algo estava errado. Sentia um vazio no peito. Angustia. Vontade de chorar. Queria chegar logo em casa para conversar com João. Mas sentia um frio na barriga como nunca havia sentido.
Ao chegar em casa, Sabrina encontra sua mãe, parada na porta de entrada com um saco preto em suas mãos. Ela temia pelo que podia haver dentro do saco. Ela sabia que lá estava seu tabuleiro. Mas estaria inteiro? Partido ao meio? O desespero toma conta de Sabrina, quando ouve o grito de sua mãe:
- Vai trabalhar, sua vagabunda!
A mãe de Sabrina abre o saco e joga as cinzas da tabua sobre o gramado. A garota não consegue suportar o ódio e derruba sua mãe no chão. Mãe e filha lutam como dois animais, até que Sabrina agarra o pescoço da mãe e a mata asfixiada:
- O que foi que eu fiz?
Sabrina entra em desespero e corre para dentro de casa. Joga no chão os pratos que estavam sobre a mesa e começa a escrever um alfabeto. Com seu copo sobre a mesa, a jovem começa seu ritual para conversar com seu amigo invisível:
- João, você está ai?
O copo não se move:
- Preciso conversar com você. Fiz algo muito ruim!
Nenhum movimento.
Sabrina começa a chorar. De repente, o copo treme. Parecia um sinal. Sabrina tenta novamente o contato com João:
- Você está ai?
O copo se move em direção a resposta “Sim”, e em seguida movimenta-se para escrever a frase “estou no banheiro”.
A jovem corre desesperadamente para o banheiro, com os olhos inchados de tanto chorar. Ao abrir a porta, uma densa nuvem de vapor deixa o banheiro praticamente irreconhecível. O chuveiro estava ligado. Aos poucos a fumaça vai desaparecendo, deixando a mostra uma mensagem escrita com os dedos no box de vidro: “estou no espelho”.
Sem reação a aquela cena estranha, Sabrina corre até o espelho e fica olhando sua imagem refletida. Depois de poucos segundos sua imagem se transforma na face de João, chorando e com a boca cheia de sangue:
- Porquê você fez isso? Pergunta o espírito:
- Não sei! Ela me deixou fora de controle! Não sei o que fazer!
- Ela está aqui comigo! Ela está me machucando! Ajude-me Sabrina!
Essa foi a última frase de João antes de desaparecer no espelho. Desesperada, Sabrina bate no espelho, na parede e na porta para descarregar seu ódio. Em sua cabeça, ela só consegue imaginar sua mãe estrangulando o pobre João. Em um momento de desespero final, ela grita:
- Vou te buscar, João! Sabrina pega uma navalha de seu pai e passa em seu pescoço. O sangue jorra pelo banheiro inteiro, manchando o box, o piso e o espelho. Mas Sabrina está calma. Ela sabe que tudo isso é pelo seu amigo João. Mas antes de morrer Sabrina vê algo que a deixa apavorada. Seu último movimento é a tentativa de um grito, de desespero e angústia. Algo mais estava escrito naquele box. O choro de João aumenta nos ouvidos de Sabrina, mas o choro se transforma em uma gargalhada macabra. Seus olhos estão vermelhos, sua pele pálida está coberta de sangue e não há mais nada que ela possa fazer, a não ser esperar pelo seu momento final. Seu corpo dá seus últimos espasmos pelo chão. O sangue se espalha por todo o banheiro, até sair pela porta. O pai de Sabrina vê o piso do corredor cheio de sangue que sai do banheiro e abre a porta para ver o que aconteceu. A fumaça começa a se dissipar e ele encontra a filha estendida no chão, com a navalha em uma das mãos e a outra mão apontando para o box, que tinha os dizeres “estou no espelho”.
Ao pegar sua filha nos braços, e chorando como uma criança, ele olha para o espelho sujo de sangue para tentar entender o que havia acontecido. Olha para o rosto de Sabrina, pálido e com os olhos inchados de tanto chorar. Ao abraçar sua filha, o homem descobre que algo mais estava escrito no box, logo abaixo, com uma letra trêmula e menor, os dizeres “minha filha” apareciam quase que escondidos:
- Estou no espelho, minha filha.

fonte: soloproibido.com

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

sábado, 24 de novembro de 2012

O jogo da meia noite

O jogo da meia noite é um velho ritual pagão usado principalmente como punição para aqueles que quebraram as regras da religião pagã em questão. Enquanto é usada principalmente para amedrontar, afim de não ocorrer desobediência aos deuses, ainda assim há uma grande chance de morte para aqueles que jogam o jogo da meia noite, e uma chance ainda maior de sequelas mentais. É altamente recomendado que você NÃO jogue o jogo da meia noite. Mas, para aqueles poucos que procuram por um rush de adrenalina ou aqueles que gostam de lidar com rituais obscuros, aqui estão as instruções sobre como jogar. Faça-o por sua conta e risco.
Requisitos

é necessário que seja exatamente meia noite quando você começar a fazer o ritual, senão não funcionará. 
Materiais requeridos:
 vela, uma porta de madeira, no mínimo uma gota do seu próprio sangue, um pedaço de papel, fósforos ou isqueiro e sal. Se você vai jogar com múltiplas pessoas, eles todos precisarão de seus próprios materiais e farão os passos citados abaixo separadamente.
Passo um
: escreva seu nome completo (primeiro nome, o do meio e sobrenome) num pedaço de papel e ponha pelo menos uma gota do seu próprio sangue. Permita que seja sugado pelo papel.
Passo dois
:
 Desligue todas as luzes da casa. Vá a sua porta da frente, a qual precisa ser de madeira, e ponha o papel com seu nome na frente dela. Agora pegue a vela e acenda. Ponha a vela em cima do papel com seu nome.
Passo três: Bata na sua porta 22 vezes (a hora precisa ser meia noite à última batida), então abra a porta, apague a vela e feche a porta. Você acabou de permitir que o homem da meia noite entre em sua casa.
Passo quatro

Acenda sua vela imediatamente! Aqui é onde o jogo começa. Agora, você precisa andar pela sua casa, completamente escura ,com a vela acesa em suas mãos.
 Seu objetivo é evitar o homem da meia noite a todo custo até 3:33 da manhã. Se sua vela se apagar, quer dizer que o homem da meia noite está perto. Você precisa reacender a sua vela nos próximos 10 segundos. Se você não obtiver sucesso, deve fazer um círculo de sal em volta de si mesmo. Se você falhar nisso também, o homem da meia noite vai induzir alucinações do seu maior medo que durarão até 3:33 da manhã. Se você conseguir fazer o círculo, deve ficar dentro dele até 3:33 da manhã. Você deve ficar até as 3:33 da manhã sem ser atacado pelo homem da meia noite ou ser preso no círculo de sal para ganhar. O homem da meia noite irá embora às 3:33 da manhã e você estará seguro para seguir com o seu dia. Indicações que você está perto do homem da meia noite incluem uma queda súbita da temperatura; ver uma figura humanoide, totalmente preta, na escuridão; e sussurros baixos vindo de fonte indiscernível. Se você sentir qualquer um desses, é recomendando que você saia da área para evitar o homem da meia noite. Ficar em um ponto pelo jogo todo só vai resultar no homem da meia noite achando você, é altamente recomendando que você continue se movendo durante todo o jogo. NÃO ligue nenhuma luz durante o jogo da meia noite NÃO use lanterna durante o jogo da meia noite NÃO durma durante o jogo da meia noite NÃO use o sangue de outra pessoa no seu nome NÃO use isqueiro ao invés de vela, não irá funcionar. E definitivamente NÃO tente provocar o homem da meia noite de qualquer jeito. É isso. Lembrem-se, eles sempre te observam.

domingo, 11 de novembro de 2012

Canção de ninar

"Pelo vidro do carro olhei pela primeira vez o prédio cinza. Parecia bem mais morto do que meus pais haviam dito. Por que mudamos para esse condomínio mesmo? É, papai perdeu o emprego outra vez, e nós perdemos nossa bela casa, confortável e toda pintada de azul bem clarinho no bairro mais bonito da cidade. É a economia que está ruim, me dizem eles. Mamãe é uma pessoa muito boa. Trabalha muito todos os dias cuidando de mim e de papai. À noite, quando toda a cidade está em silêncio, ouço minha mãe cozinhando e limpando a casa enquanto sussurra uma linda canção de ninar. Eu nunca achei estranho que minha mãe não dormisse. Eu achava que era assim que as mães eram… Mais que humanas. Ela nem mesmo reclamou quando meu pai chegou em casa e disse que tinha perdido o emprego e precisávamos nos mudar. Ela aceitou sem nem mesmo uma lágrima, perder tudo aquilo que ela cuidou durante anos com tanto carinho. O céu estava cinza, combinando com o prédio e com o meu humor. Olhei para o prédio mais uma vez, e suspirei antes de entrar.  - Camila, traga suas caixas para o apartamento, grita meu pai. -Já vou! Nossa às vezes os pais conseguem ser irritantes. Minha mãe havia chegado antes, e limpado o apartamento durante a noite, depois do expediente. Ela era incrível, sempre tão trabalhadora. Enquanto meus pais arrumavam nosso novo lar, decidi dar uma volta pelo condomínio e ver se tinha alguma criança da minha idade para brincar. Estranho, pensei. Parece que não mora mais ninguém aqui. - Oi, eu sou o Pablo. Prazer. Virei a cabeça e vi um menino, pouco mais de dois anos mais velho que eu, me estendendo a mão. - Camila, o prazer é meu. Pablo me explicou que a maioria dos vizinhos não aparecia durante o dia, e ele era a única criança que morava lá. -Mas não se preocupe, os adultos aparecem todos às 9 horas, e passam a noite limpando seus apartamentos e cantarolando uma linda canção de ninar. Apesar de toda a estranheza da situação, me acostumei rapidamente com meu novo apartamento.  Pablo era um bom amigo, e passávamos muito tempo juntos depois que eu voltava da escola.  Perguntei por que ele não ia à escola, e ele me respondeu que pessoas como nós não precisam de escola depois dos 12 anos. Fiquei dias pensando nisso, até que decidi esquecer o que aquilo queria dizer. Pablo às vezes me dizia coisas que me davam arrepios. No mês seguinte, papai desapareceu. Minha mãe disse que ele havia nos abandonado, que a vida responsável era demais para ele. Apesar de toda a doçura com que me olhava, eu vi um relance de mentira quando ela desviou. Meu pai podia ser um pouco desligado e irresponsável, mas ele me amava e não ia ir embora no meio da noite sem me dizer nada. Ele sabia que eu era madura o suficiente para entender se ele fosse. Dali a dois meses seria meu aniversário de 12 anos. Pablo estava eufórico, me dizendo que tinha feito um presente especial só pra mim, assim como todos os nossos vizinhos. Apesar de serem meio excêntricos, me tratavam bem e pareciam gostar de mim. A cada dia que passava, eu sentia mais dificuldades para dormir. Mesmo com a canção de ninar da minha mãe, eu sempre acabava dormindo cada noite menos. Mas isso não parecia me fazer falta. Além disso, me sentia cada dia mais forte e mais inteligente. Será que isso era crescer? Uma noite eu já estava cansada de me deitar sem dormir a noite toda. Faltavam duas semanas para meu aniversário, e a canção de mamãe começou a me irritar, ao invés de me deixar com sono. Resolvi sair do meu quarto de fininho e tentar sair de casa sem minha mãe ver.  Quando passei pela cozinha, ela cantava sua canção de ninar que fazia coro com as vozes dos outros vizinhos, todos cantando ao mesmo tempo, enquanto ela limpava uma poça de sangue enorme no meio da cozinha, que parecia sair do forno onde ela cozinhava… Minha mãe olhou para mim com medo pela primeira vez na minha vida. - Camila, não era para você saber disso antes do seu aniversário. Você não vai entender, até que esteja pronta pra aceitar que somos diferentes. Saí correndo do apartamento em pavor. O que era aquilo que minha mãe estava cozinhando? Pior, o que ela tinha me dado para comer durante todos esses anos? Passei pelo corredor do prédio e vi que as portas de todos os apartamentos estavam abertas, e todos os meus vizinhos limpavam manchas de sangue e cantavam a mesma canção. Assustada, corri com uma velocidade que não achei ser possível. Tudo passava a minha volta como um borrão, até que eu colidi com alguma coisa. Pablo. Pablo me pegou pelo braço e começou a me puxar de volta para casa. Apesar de eu ser forte, não era mais forte do que Pablo, que parecia ser feito de aço. Eu tentei gritar, mas minha voz não saiu. O desespero começou a tomar conta de mim, e eu sabia que, se Pablo me levasse de volta, nunca ia sair viva daquele lugar. Com esse pensamento, desmaiei. Quando acordei, minha mãe me olhava com muita preocupação e amor. Senti-me segura. Nesse momento, descobri que ela me amava e apesar de ser um monstro, não ia me machucar. - Mãe, por quê? – Eu disse com lágrimas nos olhos. – Por que somos assim? - Eu não sei querida. Nós nascemos diferentes das outras pessoas, o que não quer dizer que somos maus. - E o papai? – Perguntei, já sabendo a resposta. - Eu estava com fome, meu amor.  Nós precisamos de carne e sangue humano para sobreviver. Quando cantamos, podemos atraí-los para perto enquanto dormem. Nós tentamos desistir dessa vida, mas isso nos deixa forte, e nos deixa viver por séculos sem envelhecer. Você vai se acostumar com o tempo. 31 de outubro. Hoje é meu aniversário de novo.  Não sei mais quantos anos tenho, nem me preocupo com isso. Essa noite nós todos vamos comemorar. Você já está me ouvindo? É uma linda canção de ninar…"

fonte: minilua