Esta noite eu estou consciente do passo que tenho de dar. Durante toda a minha adolescência até o presente momento; trabalhei exaustivamente para desenvolver um suposto potencial, que não se confirmou: é fato - sou um artista medíocre. Na pré e pós-adolescência muita gente quer ser um grande músico - poucos trabalham buscando aperfeiçoar-se.
Foi o que fiz.
Minha busca me levou a um dos mais talentosos e bem sucedidos mestres do blues do meu país. Num de nossos diálogos ele me olhou zombeteiramente:
- Você faria qualquer coisa para ser um músico de sucesso?
Respondi que sim.
João Nettar caminhou então até sua escrivaninha e rabiscou um endereço num papel.
Em dois meses consegui levantar a quantia necessária para viajar até Clarcksdale, Mississipi. Escolhi uma noite em que a lua alta lançava sombras sobre as árvores da encruzilhada. Faltavam quinze minutos para a meia noite, quando cheguei no local.
Quando os ponteiros se uniram, uma limusine escura parou diante de mim e um desceu um distinto ancião. Parecia um executivo de multinacional; rico, sem dúvida.
Olhou-me com interesse e comentou:
- Ah! O garoto do blues...
A maldade contida naquele olhar provocou um arrepio que percorreu a nuca até os dedos dos pés.
- Do que você precisa, garoto do blues?
- Que..que a minha música faça sucesso, senhor.
- Ótimo, ótimo.. Sabe o preço a pagar?
Balancei a cabeça afirmativamente.
Tomou rapidamente minha mão e fez um corte profundo na palma. A seguir me passou uma pena.
- Molhe.
Passei a pena na palma da mão e assinei o contrato que me passava.
Quando voltei para casa, meus pais estavam eufóricos. Um pessoal de uma gravadora havia me ligado.
Enviado por: Magno Domino Machevo
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