Ela me esperava.
Porque eu achava que me esperava? Nunca conversamos, nunca a vira durante o dia. Mas a qualquer hora da noite que sentisse aquele arrepio característico percorrer meu corpo, era certo que a veria na esquina.
O ápice do meu medo foi a noite da tempestade. Acordei com as janelas batendo violentamente, e com respingos de chuva entrando no quarto. Levantei-me de um salto. Ela estava no mesmo lugar em que a vira nas outras noites. Parecia muito frágil, semi-protegida por uma capa com touca, parada à luz dos últimos lampiões. Mas não. Ela não era desprotegida. Era um ser diabólico, decidido a transformar meus nervos em frangalhos.
Passei a vê-la nos lugares mais improváveis; em duas oportunidades, pensei que passara do outro lado da calçada; rapidamente.
Eu estava em companhia de uns amigos, que notaram meu empalidecer.
A sequência dos meus dias transformaram-se num inferno e eu já temia pela minha sanidade.
Fiz o que meu coração mandou, numa noite em que os grossos pingos de chuva começaram a açoitar minha janela. Esperei-a. Meu coração batendo descompassadamente quase parou quando meus olhos enxergaram o vulto de andar trôpego saindo da escuridão e aguardando sob a luz que tantas noites a iluminara. Desci as escadas vestindo a capa de chuva e quase ri quando passei pela cozinha, pois cogitara levar uma faca. Desisti. Seria cômica a prisão de um jovem de um metro e oitenta que atacara uma velhinha com uma faca de cozinha.
Quando abri a porta da frente, as lufadas de vento gelado espargiram o temporal sobre a camisa do pijama e eu senti um ódio indescritível pelo vulto mirrado me aguardando na esquina. Pensei que hoje ela iria prum asilo ou sanatório, querendo ou não.
Ao me aproximar minha coragem já não era tão patente. Chamei-a. Quando levantou os olhos pude sentir sua frieza. Soube que não poderia fugir.
Sua mão esquerda agarrou meu pulso. Dei-lhe um puxão violento, mas ela não se moveu. A única coisa que consegui foi lesionar o bíceps. Esmurrei-lhe. Ela não se mexeu, não pareceu sentir nada. Ela balançou a cabeça afirmativamente quando perguntei em lágrimas se minha hora chegara.
Seu pulso extremamente poderoso foi me puxando, enquanto eu esperneava e abrasava o flanco esquerdo na calçada de cimento.
Enviado por: Magno Domino Machevo
Porque eu achava que me esperava? Nunca conversamos, nunca a vira durante o dia. Mas a qualquer hora da noite que sentisse aquele arrepio característico percorrer meu corpo, era certo que a veria na esquina.
O ápice do meu medo foi a noite da tempestade. Acordei com as janelas batendo violentamente, e com respingos de chuva entrando no quarto. Levantei-me de um salto. Ela estava no mesmo lugar em que a vira nas outras noites. Parecia muito frágil, semi-protegida por uma capa com touca, parada à luz dos últimos lampiões. Mas não. Ela não era desprotegida. Era um ser diabólico, decidido a transformar meus nervos em frangalhos.
Passei a vê-la nos lugares mais improváveis; em duas oportunidades, pensei que passara do outro lado da calçada; rapidamente.
Eu estava em companhia de uns amigos, que notaram meu empalidecer.
A sequência dos meus dias transformaram-se num inferno e eu já temia pela minha sanidade.
Fiz o que meu coração mandou, numa noite em que os grossos pingos de chuva começaram a açoitar minha janela. Esperei-a. Meu coração batendo descompassadamente quase parou quando meus olhos enxergaram o vulto de andar trôpego saindo da escuridão e aguardando sob a luz que tantas noites a iluminara. Desci as escadas vestindo a capa de chuva e quase ri quando passei pela cozinha, pois cogitara levar uma faca. Desisti. Seria cômica a prisão de um jovem de um metro e oitenta que atacara uma velhinha com uma faca de cozinha.
Quando abri a porta da frente, as lufadas de vento gelado espargiram o temporal sobre a camisa do pijama e eu senti um ódio indescritível pelo vulto mirrado me aguardando na esquina. Pensei que hoje ela iria prum asilo ou sanatório, querendo ou não.
Ao me aproximar minha coragem já não era tão patente. Chamei-a. Quando levantou os olhos pude sentir sua frieza. Soube que não poderia fugir.
Sua mão esquerda agarrou meu pulso. Dei-lhe um puxão violento, mas ela não se moveu. A única coisa que consegui foi lesionar o bíceps. Esmurrei-lhe. Ela não se mexeu, não pareceu sentir nada. Ela balançou a cabeça afirmativamente quando perguntei em lágrimas se minha hora chegara.
Seu pulso extremamente poderoso foi me puxando, enquanto eu esperneava e abrasava o flanco esquerdo na calçada de cimento.
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